Tenho atuado como coach / mentora, formalmente desde 2012, e como coach informal, desde a década de 1990, por atuar como professora universitária e pelo fato de adotar a metodologia construtivista de ensino – aprendizagem. Por isso, tem sido possível interagir, no mínimo, com mais de dois mil aprendizes durante todos esses anos.
Pela primeira vez, neste ano, me deparo com um coachee que chega afirmando que ele tinha amor familiar, conjugal e social, tempo e dinheiro (mesmo que tenha “negociado” os valores dos encontros de coaching), aparentemente solicitando apoio para saber que rumo dar à sua vida laboral:
- Empreender (possuía alguns projetos, mas preferia não revelá-los inicialmente para “não se comprometer e ter a possibilidade aberta de mudança radical de ideia sem se constranger diante do interlocutor” – palavras dele),
- Retornar à sua posição anterior ao "período sabático" no empreendimento familiar de sucesso ou
- Procurar emprego, em um campo que ainda desconhecia qual seria porque não sabia ainda o que desejava.
Entretanto, nos primeiros encontros, por diversas vezes, declara gostar mesmo é de responder “sigo vivendo” quando perguntado sobre o que faz e de observar a expressão do interlocutor diante de sua resposta.
Entre os primeiros encontros surge o ceticismo expresso do seguinte modo:
- Durante os encontros aceitava as tarefas a serem realizadas entre encontros, por fazer sentido para ele, a fim de buscar informações que pudessem ajudá-lo a encontrar o que desejava da vida laboral, com importância relativa mediana em sua vida (prioridade 6 entre 12 aspectos da vida analisados).
-Cerca de dois dias após o encontro, entrava em dissonância cognitiva e questionava tudo o que havia sido combinado e que havia feito sentido para ele anteriormente, por motivos diversos, inclusive mudando suas afirmações anteriores e buscando se sentir no "controle da situação", como se tudo soubesse, inclusive metodologicamente, mas sem apontar alternativas para o que não "queria fazer" por "não estar inteiramente convencido 'a priori' dos resultados que obteria com a atividade proposta.
Refletindo sobre o que fazer nos encontros para lidar com esse ceticismo, decidi encontrar formas de tangibilizar, "a priori", o que só ocorrerá a posteriori se as ações acordadas para buscar esclarecimento sobre tantas dúvidas fossem realizadas.
Diante desse ceticismo, ficou ressalta a importância da fase de “coaching education” nos encontros de coaching.
No primeiro encontro de coaching / mentoring, costumo enfatizar essa fase após escutar atenta e ativamente o coachee sobre quais são suas "dores, desejos e disponibilidades" e, a partir daí, desenho um programa de desenvolvimento personalizado, com base na metodologia de coaching ou de mentoring, em função dos objetivos a serem alcançados e dos prazos e recursos disponíveis para investimento. A seguir, realizo a validação dos princípios do processo de coaching, entre eles o de não julgamento, da confiança mútua necessária e do par "foco-ação", e do programa desenhado junto ao coachee, explicando o quê e porquê de cada etapa, passo a passo (coaching education), para que ele possa verificar se faz sentido em relação à sua visão de mundo e valores.
Em cada um dos encontros de coaching/ mentoring subsequentes, há sempre uma fase no primeiro terço do encontro, em que revalido os princípios norteadores do trabalho, o progresso da realização do programa desenhado e conteúdos específicos em função dos desafios que surgem - a fase de coaching education.
Apesar dessa práxis, percebi que era necessário, para esse coachee em particular, reforçar ainda mais o coaching education.
Por isso, ao escolher o tema que orientaria as postagens nas redes sociais nesta semana em homenagem ao Dia das Mães, elegi o tema coaching education, por reconhecer que as mães são nossas primeiras “coaches informais” e o quão importante é a educação recebida nos primórdios de nossas vidas, transmitida por quem ocupa para nós as funções materna e paterna, ao nos introduzir o conceito de limites e possibilidades e nos deixar perceber a falta diante da vida para que possamos aprender a desejar.
Sim, influenciada por essa situação, fiz esta escolha porque identifico que uma das possíveis causas do ceticismo desse coachee poderia estar relacionada à sua educação primordial em que, "aparentemente", nada lhe falta. e sua vontade é respeitada integralmente, mesmo quando decidi transgredir regras.
Para produzir meus posts, sempre realizo uma pesquisa sobre o tema a fim de verificar se há novidades que sejam úteis aos meus leitores. Por meio da pesquisa realizada, ficou evidenciada a forte relação entre educação, educação continuada, tão recomendada atualmente, e processos de coaching e mentoring. Por que?
Porque ao buscar a etimologia da palavra educar, encontrei sua origem latina, significando “instruir” e, também, “criar”. Essa palavra, composta por "ex", fora, e “ducere", guiar, conduzir, liderar, transmite a ideia de que educar é introduzir alguém no mundo por meio da instrução, isto é, “levar uma pessoa para fora de si mesma, mostrar o que mais existe além dela” e ficou evidente de que esse processo de ir além começa em nosso momento de nascimento e apenas se encerrará, nesta dimensão, com nossa morte.
Pesquisando um pouco mais para encontrar conteúdo interessante para produzir os post da semana, encontrei citações de Rubens Alves muito interessantes sobre educação que me remeteram ainda mais ao processo de coaching e de educação continuada.
Ai vão algumas delas que me pareceram úteis, em especial, para meu cético coachee ( sim, porque para lidar com seu ceticismo e suas tentativas de desconstruir a metodologia acordada, a meu pensar e sentir, na fase de coaching education eu precisaria ajudá-lo a reconhecer um "não saber" necessário para seguir no processo de autodescoberta e expresso por sua vinda ao coachtorio de modo espontâneo):
- “Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos”
- “Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido”. E para isso existem os coaches e mentores, pois estes dois ofícios são exercidos p ela arte de fazer perguntas.
- "Aprenda a gostar, mas gostar mesmo, das coisas que deve fazer e das pessoas que o cercam. Em pouco tempo descobrirá que a vida é muito boa e que você é uma pessoa querida por todos"
- “A questão não é saber uma solução já dada, mas ser capaz de aprender maneiras novas de sobreviver”
Seguindo em minhas buscas por novidades de conteúdo, encontrei definições sobre educação continuada e sua importância, também úteis para a fase de coaching education em meus encontros de coaching, as quais sintetizo aqui: Educação continuada consiste em um processo de constante qualificação do sujeito, seja no âmbito acadêmico, profissional ou pessoal. Parte do princípio de que nunca é tarde para aprender e que sempre há algo a ser aprendido.
Do ponto de vista profissional, a obtenção de novos conhecimentos e de qualificações é essencial no atual contexto de transformação digital no mundo, caracterizado por apresentar constantes e aceleradas mutações. Assim, para que os profissionais possam estar aptos a executar as suas funções com excelência, devem estar atentos a todas as mudanças e atualizações disponíveis em suas áreas e em outras com as quais precisa interagir.
Sabendo disso, algumas empresas desenvolvem programas de educação continuada, justamente para ajudar os seus colaboradores a estarem constantemente atualizados sobre as tendências do mercado, seja por meio de workshops, seminários, cursos online, à distância, de curto prazo, seja por meio de processos de mentoria ou de coaching, entre outros. E as pessoas físicas têm procurado cada vez mais apoio de coaches e mentores para realizar seus sonhos ou superar desafios em sua realização.
Considerando o conceito de coaching / mentoring como "Uma conversa face a face centrada no desenvolvimento pessoal, profissional ou organizacional por meio do aumento da autoconsciência e do senso de responsabilidade pessoal ou da equipe, quando realizado em grupo, em que o coach facilita a aprendizagem autodirigida do(s) coachee(s) através de escuta atenta e ativa, de questionamentos, de exploração de caminhos e de estabelecimento de desafios apropriados em um clima positivo e encorajador para que o(s) coachee(s) possa(m) ir além o mais rápido possível" e o conceito de educação continuada, fica clara a possibilidade de esses processos servirem como educação continuada personalizada em função das necessidades específicas de transformação comportamental, intelectual e, quiçá, filosófica de cada um.
Assim, coaching é uma atividade de conversação que visa a apoiar as pessoas a aprender e a se desenvolver, aumentando assim sua capacidade para explorar mais o seu potencial. Para aprender, há que reconhecer um não saber. Essa maneira de entender o coaching, destaca como ele está perfeitamente alinhado com o propósito da educação continuada.
Ao destacar a natureza "autodirigida" da aprendizagem, distingue-se o coaching do mentoring.
Coaching não é ensinar - é criar o ambiente no qual as pessoas podem aprender por si mesmas, conectando-se com sua curiosidade natural. Só possui curiosidade quem deseja e só é desejante quem sente falta de algo. Assim, reconhecer faltas de modo positivo pode nos levar adiante se não ficarmos agarrados ao lamento ou a "negação" de sua existência.
Na mentoria, por vezes, há a formulação de soluções em função da diferença de experiência entre mentor e mentorado. Se quiser ler um pouco mais sobre essa diferença, visite o blog em nosso site www.transcenderte.com.
Além das tradicionais interações de coaching (conversas de um a um ou em grupo), acredita-se que há uma variedade de maneiras pelas quais o coaching pode ter um impacto positivo e transformador na vida pessoal profissional e organizacional de cada um.
A importância disso e sua relação com o tema deste artigo?
Enquanto escrevo, meus pensamentos estão centrados em meu coachee cético e o quanto está sendo importante intensificar o coaching education em nossos encontros, isto é, explicar para ele (coachee) a cada técnica usada no encontro sua importância relativa para que ele perceba o que podemos extrair dela e com que modelos conceituais estamos trabalhando para construir a clareza esperada sobre o que ele deve, pode e quer fazer de sua vida laboral e pessoal.
Ao fim de cada encontro, pratico ainda um pouco mais de coaching education levando-o a refletir quais foram os principais aprendizados do encontro e a reavivar as tarefas a serem realizadas entre encontros para que fiquem esclarecidas o melhor possível.
Esse uso intensivo do coaching education tem como um dos objetivos centrais alinhar a metodologia usada à visão de mundo e valores do coachee ao longo de cada encontro, e, por meio de mecanismos compartilhados de registro dessa compreensão, diminuir o risco de dissonância cognitiva entre encontros para que não haja perda de foco e, por conseguinte, diminuição de risco de autossabotagem diante da angústia que o não saber provoca em certos sujeitos.
Vale ressaltar que encontrei três definições diferentes relacionadas à coaching education:
- Uma relacionada à processos de coaching em instituições de ensino que começam a ser adotados também no Brasil,
- Outra relacionada à formação de coaches, usada predominantemente nos Estados Unidos e
- A terceira, com a qual trabalho, que define coaching education como uma fase importante do encontro de coaching para compartilhar com o coachee a essência e a profundidade do processo de desenvolvimento em que ele escolheu imergir para fazer emergir o seu melhor para manter o compromisso consigo de “foco e ação” para ir além.
A fase de coaching education precisa ser regada de muita paciência e empatia e é fundamental para que o diálogo entre coach e coachee se dê de forma respeitosa, produtiva e objetiva para ambos.
Para isso, é preciso ter uma programa de coaching bem desenhado alinhado aos objetivos específicos de cada coachee, considerando o contexto em que se encontra, sua capacidade e desejo de realizar transformações nesse contexto e , acima de tudo, práxis de coaching e de vida, transitando com habilidade pelo maior número de conceitos possíveis nos campos tecnológico, de gestão, comportamental e filosófico de modo aberto e sem pré-julgamentos.
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